Xico Acis

O especialista em Ética e Moral e sócio do aprendendoapensar.com.br, Xico Acis, conversou conosco sobre ética e conduta e o que é necessário para ter uma competência ética nas empresas.

Ele aborda ainda sobre o impacto dos canais de denúncias externos dentro das organizações: ”Os canais de denúncias têm um valor imenso para corrigir essa “falha” no processo ético e moral.”

Conte-nos qual a diferença entre a conduta e a ética?

As condutas humanas, quando normatizadas, fazem parte da cultura de uma organização e/ou sociedade. Desta forma, podemos dizer que as condutas humanas fazem parte, do que estabelecemos, como moral. Assim, a moral de um grupo de pessoas são os “combinados” que aquele grupo estabeleceu como razoáveis e aceitáveis para o grupo evoluir.

Os códigos de conduta estão nesta esfera. Já a ética vai tratar do bem/mal universal, ou seja, de temas que envolvem a ser humano como um todo. Por isso é errado falar em “Código de Ética”.

Se a ética e universal, como pode existir um “código de ética” para uma determinada organização e/ou categoria de pessoas? O que existe é Código de Conduta e Princípios Éticos, ou seja, uma código que estabelece normas para um grupo de pessoas, baseado em princípios universais, porém respeitando a cultura daquele grupo de pessoas.

Na sua opinião, o que é necessário para desenvolver uma competência ética nas empresas?

A área da ética e moral é a filosofia. Sem estudar a filosofia de forma estruturada e profunda, dificilmente uma pessoa vai poder entender ética e moral na sua gênese. A competência ética e moral se desenvolve com estudos profundos sobre os temas.

Tem o aspecto acadêmico, porém ele deve servir para que a pessoa entenda um dilema ético e suas possíveis soluções. Sem desenvolver a competência ética, provavelmente um gestor se sentirá desconfortável após uma decisão difícil e/ou complexa de um comitê de ética, por exemplo. Tomar decisões justas, imparciais, equânimes e portanto éticas e morais não deve, a princípio, se basear apenas nos princípios jurídicos (Moral), mas também nos princípios humanistas (Éticos).

Qual é o impacto do canal de denúncias na governança da empresa?

Como não conhecemos ética e moral profundamente, temos medo de magoar outras pessoas ao falar a verdade. Essa é uma crença que leva em consideração os valores familiares, valores religiosos e valores cívicos. Nada disso tem relação com ética e moral.

Não queremos ser “dedo duro” pois essa situação é pejorativa para maioria dos brasileiros, mesmo que você queira corrigir um erro cometido por outra pessoa. Os canais de denúncias têm um valor imenso para corrigir essa “falha” no processo ético e moral. É por meio desses canais que conseguimos reestabelecer o caminho mais correto para determinada organização.

Como as denúncias podem auxiliar na tomada de decisão do conselho administrativo?

As denúncias devem ser apuradas de forma justa, imparcial, equânime e portanto ética e moral. Para isso, é de fundamental importância que os comitês de ética e/ou conselhos que avaliam as denúncias conheçam os princípios éticos e morais de forma estruturada.

Analisar uma denúncia apenas pelo lado jurídico, não cria na organização a cultura ética e moral, necessária para sua evolução. A partir das denúncias deve-se montar uma agenda ética envolvendo todo stakeholders da organização. Só assim o trabalho preventivo faz sentido, caso contrário as denúncias nunca diminuirão.

Vivemos numa crise de moral e ética no Brasil, o que as organizações podem fazer para mudar esta situação?

Eu acredito que será através das empresas que a cultura ética e moral pode ser restabelecida. A educação não está demonstrando interesse em recuperar esses temas. Em 1964, o governo militar tirou o ensino da filosofia e sociologia da grade curricular.

Após 55 anos, ainda não voltamos a ensinar ética e moral para nossas crianças e jovens de forma profunda. Se você perguntar em qualquer escola, particular ou pública de qualquer nível, poderá constatar que ninguém ensina esses temas corretamente. Até porque não existem professores de filosofia suficientes.

Hoje, na maioria das escolas, quem ensina filosofia são professores de história, português, etc. Você faria uma cirurgia cardíaca com um dermatologista? embora os dois sejam médicos, há uma diferença profunda no saber de cada um. É assim com a ética e moral.

Estudo há 17 anos esses temas e, quanto mais estudo, vejo o quanto somos alienados em assumir uma postura ética e moral verdadeira. Desta forma, as empresas podem e devem criar essa cultura ética e moral, que com certeza extrapolará a organização chegando até as famílias dos colaboradores. Após algumas gerações, saberemos a importância da ética e moral para a evolução do ser humano.

Sobre o autor :

Filósofo, Professor e Consultor, Mestrando em Filosofia para Crianças, Pós-graduado em Filosofia e Ensino de Filosofia, Licenciado em Filosofia, graduado em Comunicação Social. Atuou como CEO e Diretor de várias empresas nacionais e multinacionais e hoje é sócio da Aprendendo a Pensar, consultoria com 17 anos de existência, especialista em ética e moral. Professor convidado de Ética do MBA da FUNDACE, Professor contratado UNISANT’ANNA/FAPPES para as áreas de ética e moral em negócios, Ombudsman/Ouvidor pela ABO – Associação Brasileira de Ouvidoria, Organizador do TEDxRibeirão, Voluntário do Escritório Regional do Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos (ONU), luntário do CVV, Fundador do Instituto Magna Moralia que atuará na habilitação de professores do ensino fundamental e médio, para o Desenvolvimento da Consciência Ética e Moral e seu ensino estruturado aos alunos.